segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Depressão maníaca

Eu sei. Tudo que eu preciso é colocar os pulmões para fora e desidratar. Tomar umas doses de vodka e ouvir o som de um belo violino distorcido. Mas nada vai deixar de corroer meus pensamentos. Isso é um monstro, um monstro horrível... um monstro que eu não sabia que existia há dois meses atrás.

E eu pensava que nunca fosse conhecê-lo. E ele é cruel. Tão cruel, que o próprio Deus dissera uma vez que era a podridão dos ossos, mas ele foi meio precipitado. Ele não só corrói os ossos, como cada fibra ainda sã do corpo inteiro, e cada pensamento que tento desesperadamente manter puro.

Aliás, puro mesmo, apenas as lágrimas que insistem em pular dos meus olhos, que caem e rapidamente são transfiguradas em veneno. Dizem que os olhos são as janelas da alma, então olhe bem dentro dos meus e diga o que vê. Apenas uma pupila bem negra e os cantos vermelhos, pois aquele veneno está molhando meu rosto até agora.

Eu sei que posso confiar, mas alguma força obscura diz que não, que não é possível, é aquele monstro novamente sussurrando coisas horríveis em meus ouvidos. Você não consegue vê-lo, afinal de contas, ele está sempre disfarçado. Mas ele gosta de ficar especialmente dentro de você, te possuindo, é mais confortável para ele assim. É mais fácil o acesso até seu coração.

E seu coração com tanto medo, consente. E você tenta lutar contra esse monstro querendo que ele se vá, mas ele não vai. Por mais que você esperneie e grite, e se contorça tentando exorcizá-lo, ele apenas gargalha dentro de sua cabeça e sussurra mais mil palavras indecentes para que você enlouqueça definitivamente.

E esse monstro não só te deixa louca, como destrói tudo que você estima, pois esse é o objetivo principal dele. As pessoas se sentem fracas com sua possessão, pois elas demoram a saber o que está acontecendo, e quando descobrem já é tarde demais, não há remédio para curá-la.

A certeza é algo tão vulnerável quanto uma roleta russa – nunca se sabe se a bala está ali naquele único tiro. Mas tem que se confiar, e rezar para a bala não te acertar, afinal de contas, você sabe que não é seu fim. Não sente como se fosse seu fim, ele sempre pareceu estar tão longe que nem parecia existir. Mas ele existe. E está logo ali.

Mas é sua única chance: ou confia que você vai sair vivo e são dali ou enlouquece com a idéia que algo pode vir a dar errado. O monstro entra em seu corpo tão frágil novamente e você começa a não pensar por si mesma e mesmo que peça para ele ir embora...

É o próprio demônio. Você o odeia, quer desprezar o que ele sussurra para você, mas é inevitável a dúvida que ele instala dentro do seu ser. E a gente passa a não correr para se esconder, mas justamente pelo contrário, a gente corre para ver.